Suellen Fernandes Do G1 Vale do Paraíba e Região
Longe da folia, Benito Campos leva uma vida tranquila e reservada.
Estudioso da cultura local, criou o bloco para relembrar conterrâneo.
Benito de Moura trajado como Juca Teles presta sua homenagem ao oficial de Justiça na folia de São Luiz do Paraitinga. (Foto: Jerry Rodrigues/Prefeitura de São Luiz do Paraitinga)
Personagem central do Carnaval de São Luiz do Paraitinga, um dos mais tradicionais do interior de São Paulo, o administrador de empresas Benito de Moura Campos, de 60 anos, dá vida há 29 anos ao Juca Teles, o mais antigo bloco do carnaval de marchinhas da cidade. O bloco deve atrair neste sábado (1º) pelo menos 25 mil foliões à cidade do Vale do Paraíba.
Quem vê a desenvoltura e a energia do artesão durante a passagem do bloco nem imagina que ele já foi servidor público e que nos outros 361 dias do ano é uma pessoa reservada. Com fala mansa, Benito é amante da boa música e leva uma vida simples ao lado da esposa, com quem é casado há três décadas, e de outro Juca, seu cachorro fox paulistinha.
O trio mora num casarão, no alto de uma ladeira na região central, aos pés da igreja do Rosário - o local é um dos poucos que não foram devastados pela enchente que atingiu a cidade em 2010. Nos fundos da casa ficam dois espaços onde Benito faz os tradicionais bonecões da folia luizense e outras peças de artesanato. Como a cidade é pequena e tudo fica perto, o casal optou por não ter carro.
Benito e o cachorro carinhosamente batizado de
Juca na varanda do casarão. (Foto: Suellen F./G1)
Filho de um auditor federal e uma doceira, Benito é o caçula entre os filhos homens do casal, e desde criança tem uma relação próxima com as festividades e a tradição luizense. Apaixonado por leitura, se encantou ainda na década de 1970 com o que lia e ouvia falar a respeito de Benedito de Souza Pinto, o Juca Teles, oficial de Justiça e poeta popular luizense que morreu em 1962. Ele usava o pseudônimo para fugir do preconceito que na época rondava os artistas.
Bloco
Com medo de que a memória do Juca Teles desaparecesse, o artesão teve a idéia de criar um bloco carnavalesco para homenageá-lo em 1983. O primeiro desfile ocorreu em 1985 e atualmente é referência no carnaval da cidade.
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"Eu me considero um estudioso da comunidade, eu fui pesquisando sobre o Juca e pensei que precisava trazê-lo para a maior festa da cidade. E foi assim que eu virei o Juca Teles", disse ao G1. Assim como o inspirador, Benito também é autor de poesias. Por meio de oficinas de artesanato, em que ensina e mostra a confecção dos bonecões, ele sobrevive desde o começo da década de 90 como artista plástico.
Benito lembra que conheceu o Juca quando criança e que ele era uma figura emblemática - usava cartola e gravata nas cores preta e branca. Na releitura do ilustre cidadão, Benito fez as vestimentas inspiradas nas que o Juca usava, mas com o colorido que pede o carnaval.
Preocupação
Com 60 anos recém completados, Benito se diz preocupado com o futuro das tradições na cidade. "Ainda bem que tenho um herdeiro, um filho que pretende continuar com essa tradição. Mas eu gostaria que o bloco do Juca Teles fosse isso que ele é hoje quando eu tinha meus 16, 17 anos", disse o artesão, cujo filho tem 30 anos e vive esporadicamente com o casal em São Luiz do Paraitinga.
FONTE. Do G1 Vale do Paraíba e Região
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